sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

#chás especiais

“O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso.”


 [Rilke, in: Cartas a um jovem poeta .L&PM, 2006.]

2 comentários:

  1. Essa citação é super Invitro. Pior que nunca me interessei em comprar esse livro porque sou 'meio assim' com tudo que é biografia, autobiografia, cartas, etc. Mas acaba que, no fim das contas, são belas obras literárias.

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  2. Com certeza. E é sempre bom lermos esses textos mais confessionais, pois alguns nos "ensinam" muito sobre a escrita. Comecei a ler "As Palavras", do Sartre, onde ele fala sobre sua relação com a literatura. Há passagens belíssimas. Estou gostando muito.

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