segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Poesia da Semana



LXXVII

Esta é a casa, o mar e a bandeira.
Errávamos por outros longos muros.
Não achávamos a porta nem o som
desde a ausência como desde mortos.

E ao fim a casa abre o seu silêncio,
entramos a pisar o abandono,
os momentos mortos, o adeus vazio,
a água que chorou no encanamento.

Chorou, chorou a casa noite e dia,
gemeu com as aranhas*, entreaberta,
se desgastou desde seus olhos negros,

e agora de repente a revolvemos viva,
a povoamos e não nos reconhece:
tem que florescer, e não se acorda.

Pablo Neruda, in: "Cem Sonetos de Amor". L&PM Pocket, 2007. p.88


*pequenas carruagens puxadas por cavalos

Um comentário: