terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Chá com autores da aldeia: Voando na imaginação, com as asas e o olhar de Andréia Pires

Olá, pessoal!

Tudo bem?


O Chá com autores da aldeia dessa semana vem a público com uma convidada muito especial: a Andréia
Andréia Pires: autora de De solas e asas e,
saindo do forno, Um ninho no estranho.
Pires, escritora que, com apenas duas obras publicadas mas muita criação literária, já vem mostrando a que veio. De uma sensibilidade e tanto, a obra de Andréia ganha público por onde quer que passe. Nós aproveitamos o momento bacana - o lançamento do Um ninho no estranho, livro infantil lançado pela autora na Feira do Livro de Rio Grande deste ano - para trocar uma ideia e falar com ela sobre o seu processo criativo. Acompanhe:

1) Teu primeiro livro foi o De solas e asas, reunião de diversos contos. Como se deu a seleção desses contos? Eles foram escritos de maneira desinteressada ou tu os havias elaborado já com a intenção de reuni-los em livro, sob forma de projeto, com algum eixo norteador?

Eu escrevia e postava tudo no blog Solstícios, que nem existe mais. Comecei a me experimentar em narrativas e em raros poemas naquele espaço, que podia ser acessado e comentado por amigos. Vontade de publicar sempre tive, mas a decisão de garimpar uma editora e bancar o projeto veio da necessidade de compreender os processos editoriais. Na época, o Coletivo Fita Amarela tinha recém formado um núcleo literário – que hoje virou o Invitro – Laboratório de Escrita Criativa, ligado à Mundo Moinho – e nossa ideia era descobrir os caminhos mais acessíveis para a publicação independente dos autores de Rio Grande. Juntei uma grana e banquei a publicação. Foi uma tiragem pequena, de 150 exemplares.
De solas e asas é o nome de um dos contos do livro. Escolhi esse para ser o título, pois é um texto que de certa forma interligava os demais. A história me parecia representar a unidade do conjunto de narrativas, que tem elementos fantásticos e uma temática recorrente, a relação entre equilíbrio e loucura, entre chão e céu, entre o real e o inventado.

De solas e asas, primeiro livro da autora.
2) E como foi a recepção desse livro?

Olha, foi melhor do que eu esperava. Eu não esperava quase nada. Acreditava nas minhas histórias, mas fazia ideia do que poderia acontecer se elas fossem para a rua, todas juntas, em forma de livro. Tenho uma família enorme e um monte de amigos, gente querida que foi atrás do livro e fez questão de participar dos rituais: lançamento, sessão de autógrafo, etc. Senti que as pessoas passaram a olhar com mais atenção não só para mim e para o meu trabalho, mas para o que o Coletivo Fita Amarela estava propondo em arte e que a Mundo Moinho deu continuidade. Aprendi bastante com o resultado da publicação e algumas portas foram se abrindo: convites para colaboração em jornal, para a participação em eventos literários, para leitura de originais de outros autores, enfim. O que veio depois do livro tem sido incrível.



3) Recentemente, acabas de lançar o Um ninho no estranho, tua estreia no universo da literatura infanto. Como foi essa experiência?


Está sendo! O livro chegou essa semana e foi direto para a banca da 41º Feira do Livro da FURG. Ainda não tive retorno de leituras. Antes de o livro chegar experimentei contar a história a grupos de crianças bem pequenas e, para a minha surpresa, elas entraram no clima de cabelos crescidos que viram ninhos de pássaros. Foi bem legal. Um ninho no estranho é um texto para qualquer idade, mas tem personagens infantis, com conflitos infantis, e acredito que isso naturalmente atraia um público mais jovem.

4) Tu és uma guria super ativa, e estás sempre envolvida com projetos artísticos, sobretudo literários e musicais. Quais são os projetos para 2014?

Eu sou? :D Aposto todas as minhas fichas no Invitro em 2014, no trabalho coletivo pela cena literária rio-grandina. No ano passado formamos um grupo com pessoas que se pensam artistas, que estão se constituindo escritores, que discutem seus processos criativos, que se desafiam a tirar seus textos das gavetas e mostrar a seus pares, que criam condições para que seu trabalho seja visto e lido, que desejam – e muito – fazer da escrita literária ofício. O objetivo agora, acho, é propor estratégias para ampliar o alcance dessa produção, buscando públicos leitores na cidade e para além dela.

5) Nesses projetos tu usas sempre o Facebook como eficaz ferramenta de divulgação, não? Lembro que o projeto sobre Cecília andou bastante por lá...


Sim. As redes sociais na internet são fundamentais nesse nosso tempo quando a necessidade é divulgar ações artísticas como as da Mundo Moinho ou projetos individuais como foi o Depois de Cecília. Os meios de comunicação tradicionais continuam sendo os que mais credibilidade têm em Rio Grande, mas a visibilidade imediata, o recado mesmo quem dá é a Internet.

6) O que motiva a tua escritura?

Escrever me acalma e tudo me dá motivo para inventar uma história, uma mosca pousada na mesa, uma conversa em parada de ônibus, uma situação constrangedora, uma experiência feliz. Eu me sinto bem, muito bem, enquanto mobilizo gentes e coisas e lugares na minha escrita. E se depois alguém lê é incrível.
Um ninho no estranho: o recém nascido
que já está fazendo sucesso pela aldeia.


7) O que percebes que tem se modificado com o amadurecimento do teu trabalho?


Acho que as temáticas estão mudando. Quando me leio percebo que já não insisto tanto em temas tão duros, como a loucura por exemplo. A aflição da própria incompreensão, de não distinguir real de inventado, ocupou meus personagens por muito tempo. Não entro e saio com facilidade dos mundos que crio.

8) O que tu mais gostas de escrever?

Contos. Normalmente são curtos. É provável – e eu espero – que o meu processo mude e se refine com o tempo, mas por enquanto costumo escrever uma história de uma vez só. Saio do texto quando acho que terminei. Faço tudo errado do que costumam dizer a respeito de como um escritor deve tratar seu texto. Aquilo de deixar o texto descansar não funciona comigo, quero logo que o meu ganhe rua, que seja lido. Volto nos escritos depois e faço correções na própria postagem do blog, sem medo do que os outros vão dizer. Gosto de pensar que todo texto merece ser lido, mesmo os que não parecem bons.

9) Todo escritor escreve pressupondo já o leitor ideal. Quem tu esperas que seja o teu leitor?


Eu não sei, sinceramente. Espero que qualquer pessoa com um pingo de disposição e tempo para me ler o faça. Essa criatura, de antemão, tem minha gratidão e o meu respeito. 


E assim terminamos o Chá com autores da aldeia dessa semana. Não deixem de comentar (e aproveitem as ótimas dicas de leitura)!
Até a próxima.

2 comentários:

  1. Muito boa entrevista. Excelente escolha para o Chá com autores da aldeia desta semana. Parabéns ao colegas do blog e, claro, para Andréia Pires.
    Abraço.

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  2. Chamaram para o chá e eu vim correndo! :D

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