Olá, pessoal!
Tudo bem?
O Chá com autores da aldeia dessa semana vem a público com uma convidada muito especial: a Andréia
Pires, escritora que, com apenas duas obras publicadas mas muita criação literária, já vem mostrando a que veio. De uma sensibilidade e tanto, a obra de Andréia ganha público por onde quer que passe. Nós aproveitamos o momento bacana - o lançamento do Um ninho no estranho, livro infantil lançado pela autora na Feira do Livro de Rio Grande deste ano - para trocar uma ideia e falar com ela sobre o seu processo criativo. Acompanhe:
Andréia Pires: autora de De solas e asas e, saindo do forno, Um ninho no estranho. |
1) Teu
primeiro livro foi o De solas e asas, reunião de diversos contos.
Como se deu a seleção desses contos? Eles foram escritos de
maneira desinteressada ou tu os havias elaborado já com a intenção
de reuni-los em livro, sob forma de projeto, com algum eixo
norteador?
Eu
escrevia e postava tudo no blog Solstícios, que nem existe mais.
Comecei a me experimentar em narrativas e em raros poemas naquele
espaço, que podia ser acessado e comentado por amigos. Vontade de
publicar sempre tive, mas a decisão de garimpar uma editora e bancar
o projeto veio da necessidade de compreender os processos editoriais.
Na época, o Coletivo Fita Amarela tinha recém formado um núcleo
literário – que hoje virou o Invitro – Laboratório de Escrita
Criativa, ligado à Mundo Moinho – e nossa ideia era descobrir os
caminhos mais acessíveis para a publicação independente dos
autores de Rio Grande. Juntei uma grana e banquei a publicação. Foi
uma tiragem pequena, de 150 exemplares.
De
solas e asas é o nome de um dos contos do livro. Escolhi esse para
ser o título, pois é um texto que de certa forma interligava os
demais. A história me parecia representar a unidade do conjunto de
narrativas, que tem elementos fantásticos e uma temática
recorrente, a relação entre equilíbrio e loucura, entre chão e
céu, entre o real e o inventado.
De solas e asas, primeiro livro da autora. |
2) E
como foi a recepção desse livro?
Olha,
foi melhor do que eu esperava. Eu não esperava quase nada.
Acreditava nas minhas histórias, mas fazia ideia do que poderia
acontecer se elas fossem para a rua, todas juntas, em forma de livro.
Tenho uma família enorme e um monte de amigos, gente querida que foi
atrás do livro e fez questão de participar dos rituais: lançamento,
sessão de autógrafo, etc. Senti que as pessoas passaram a olhar com
mais atenção não só para mim e para o meu trabalho, mas para o
que o Coletivo Fita Amarela estava propondo em arte e que a Mundo
Moinho deu continuidade. Aprendi bastante com o resultado da
publicação e algumas portas foram se abrindo: convites para
colaboração em jornal, para a participação em eventos literários,
para leitura de originais de outros autores, enfim. O que veio depois
do livro tem sido incrível.
3)
Recentemente, acabas de lançar o Um ninho no estranho, tua estreia
no universo da literatura infanto. Como foi essa experiência?
Está
sendo! O livro chegou essa semana e foi direto para a banca da 41º
Feira do Livro da FURG. Ainda não tive retorno de leituras. Antes de
o livro chegar experimentei contar a história a grupos de crianças
bem pequenas e, para a minha surpresa, elas entraram no clima de
cabelos crescidos que viram ninhos de pássaros. Foi bem legal. Um
ninho no estranho é um texto para qualquer idade, mas tem
personagens infantis, com conflitos infantis, e acredito que isso
naturalmente atraia um público mais jovem.
4)
Tu és uma guria super ativa, e estás sempre envolvida com projetos
artísticos, sobretudo literários e musicais. Quais são os projetos
para 2014?
Eu
sou? :D Aposto todas as minhas fichas no Invitro em 2014, no
trabalho coletivo pela cena literária rio-grandina. No ano passado
formamos um grupo com pessoas que se pensam artistas, que estão se
constituindo escritores, que discutem seus processos criativos, que
se desafiam a tirar seus textos das gavetas e mostrar a seus pares,
que criam condições para que seu trabalho seja visto e lido, que
desejam – e muito – fazer da escrita literária ofício. O
objetivo agora, acho, é propor estratégias para ampliar o alcance
dessa produção, buscando públicos leitores na cidade e para além
dela.
5)
Nesses projetos tu usas sempre o Facebook como eficaz ferramenta de
divulgação, não? Lembro que o projeto sobre Cecília andou
bastante por lá...
Sim.
As redes sociais na internet são fundamentais nesse nosso tempo
quando a necessidade é divulgar ações artísticas como as da Mundo
Moinho ou projetos individuais como foi o Depois de Cecília. Os
meios de comunicação tradicionais continuam sendo os que mais
credibilidade têm em Rio Grande, mas a visibilidade imediata, o
recado mesmo quem dá é a Internet.
6)
O que motiva a tua escritura?
Escrever
me acalma e tudo me dá motivo para inventar uma história, uma mosca
pousada na mesa, uma conversa em parada de ônibus, uma situação
constrangedora, uma experiência feliz. Eu me sinto bem, muito bem,
enquanto mobilizo gentes e coisas e lugares na minha escrita. E se
depois alguém lê é incrível.
Um ninho no estranho: o recém nascido que já está fazendo sucesso pela aldeia. |
7)
O que percebes que tem se modificado com o amadurecimento do teu
trabalho?
Acho
que as temáticas estão mudando. Quando me leio percebo que já não
insisto tanto em temas tão duros, como a loucura por exemplo. A
aflição da própria incompreensão, de não distinguir real de
inventado, ocupou meus personagens por muito tempo. Não entro e saio
com facilidade dos mundos que crio.
8)
O que tu mais gostas de escrever?
Contos.
Normalmente são curtos. É provável – e eu espero – que o meu
processo mude e se refine com o tempo, mas por enquanto costumo
escrever uma história de uma vez só. Saio do texto quando acho que
terminei. Faço tudo errado do que costumam dizer a respeito de como
um escritor deve tratar seu texto. Aquilo de deixar o texto descansar
não funciona comigo, quero logo que o meu ganhe rua, que seja lido.
Volto nos escritos depois e faço correções na própria postagem do
blog, sem medo do que os outros vão dizer. Gosto de pensar que todo
texto merece ser lido, mesmo os que não parecem bons.
9)
Todo escritor escreve pressupondo já o leitor ideal. Quem tu esperas
que seja o teu leitor?
Eu
não sei, sinceramente. Espero que qualquer pessoa com um pingo de
disposição e tempo para me ler o faça. Essa criatura, de antemão,
tem minha gratidão e o meu respeito.
E assim terminamos o Chá com autores da aldeia dessa semana. Não deixem de comentar (e aproveitem as ótimas dicas de leitura)!
Até a próxima.
E assim terminamos o Chá com autores da aldeia dessa semana. Não deixem de comentar (e aproveitem as ótimas dicas de leitura)!
Até a próxima.
Muito boa entrevista. Excelente escolha para o Chá com autores da aldeia desta semana. Parabéns ao colegas do blog e, claro, para Andréia Pires.
ResponderExcluirAbraço.
Chamaram para o chá e eu vim correndo! :D
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