Canção da Torre Mais Alta
Mocidade presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.
Eu me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro
Augusto retiro.
Tamanha paciência
Não me hei de esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.
Qual o Prado imenso
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imundas.
Ah! viuvez selvagem
Desta alma que chora
Tendo só a imagem
De Nossa Senhora!
Mas quem rezaria
À Virgem Maria?
Mocidade presa
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! que o tempo venha
Em que alma se empenha!
Arthur Rimbaud , in: "Poesia Completa". TopBooks, 1995. p.231-233. Edição bilíngue. Tradução e organização: Ivo Barroso.
É lindo esse poema! Sempre que leio, me traz recordações da minha própria juventude, "a tudo oprimida". Daqueles poemas, cujos versos ficam gravados na memória afetiva para sempre!
ResponderExcluirBonito, bonito. ;-)
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