terça-feira, 22 de julho de 2014

Chá com Poesia: Edna St. Vincent Millay em tradução #1


 Por Vanessa Regina

imagem: google
Meu primeiro contato com a obra de Edna St. Vincent Millay foi por meio de um blog literário dedicado, entre outras coisas, à tradução de poesia. Da identificação imediata com os poemas de Millay à busca por uma edição em língua portuguesa decorreram semanas de pura angústia, pois  são raras e esparsas as traduções no Brasil desta poeta e dramaturga americana. Portanto a solução foi procurar pelo original. Tive a sorte de encontrar na Estante Virtual o Collected Poems, em uma edição de 1956, publicado pela Harper & Brother Publishers, de Nova York. Pelo preço simbólico de R$13, 00 (sim, acreditem!), o livro contém 738 páginas e traz uma seleção das principais obras em verso de Edna, como por exemplo, Renascence; Second April; A Few figs from Thistles e The Buck in the Snow, entre outras. Nascida em 1892, no Maine, Millay foi a primeira mulher a ganhar o prêmio Pulitzer na categoria poesia, em 1923. Sua produção principia nos anos 20 e se estende até a década de 40.  A poeta faleceu em 1950 em decorrência de um ataque cardíaco.

Millay foi uma agradável descoberta neste mundo tão árido da poesia. Transcrevo abaixo dois textos que se aproximam por um tema recorrente em sua obra: a morte. Segue também uma tradução (livre) minha:

 

PRAYER TO PERSEPHONE


     Be to her, Persephone,
     All the things I might not be;
     Take her head upon your knee.
     She that was so proud and wild,
     Flippant, arrogant and free,
     She that had no need of me,
     Is a little lonely child
     Lost in Hell,—Persephone,
     Take her head upon your knee;
     Say to her, "My dear, my dear,
     It is not so dreadful here."

 ----------------------------------------------------
 
ORAÇÃO A PERSÉFONE

 
Seja para ela, Perséfone,

Tudo que eu não deveria ser

Coloque-a sobre o seu colo

Ela que era tão orgulhosa e rebelde,

Irreverente, arrogante e independente,

Ela que não precisava de mim,

É uma criança solitária

Perdida no inferno, - Perséfone,

Coloque-a sobre seu colo;

E diga a ela, “Minha querida, minha querida,

Aqui não é tão terrível.”

 
      ***

LAMENT


     Listen, children:
     Your father is dead.
     From his old coats
     I'll make you little jackets;
     I'll make you little trousers
     From his old pants.
     There'll be in his pockets
     Things he used to put there,
     Keys and pennies
     Covered with tobacco;
     Dan shall have the pennies
     To save in his bank;
     Anne shall have the keys
     To make a pretty noise with.
     Life must go on,
     And the dead be forgotten;
     Life must go on,
     Though good men die;
     Anne, eat your breakfast;
     Dan, take your medicine;
     Life must go on;
     I forget just why.

    [ In "Second April", 1956]
-----------------------------------------------------

 
LAMENTO
 

Ouçam, crianças:

Seu pai está morto.

De seus casacos antigos

Eu farei jaquetinhas para vocês;

E de suas calças velhas

Farei pequenos blusões.

Haverá nos bolsos

Coisas que ele costumava colocar lá,

Chaves e moedas

Cobertos por tabaco;

Dan terá as moedas

Para guardar em seu banco;

Anne terá as chaves

Para fazer um lindo barulho com elas.

A vida continua,

E o morto é esquecido;

A vida continua,

Embora os bons homens morram;

Anne, tome seu café da manhã;

Dan, tome seu remédio;

A vida continua;

E eu esqueço a razão.

 

                            Por hoje é só, até a próxima! J

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 comentários:

  1. Ótimo texto e ótimas traduções. Obrigado por me apresentar uma excelente poeta que eu ainda não conhecia. Continua firme no Chá, querida! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Querido, obrigada pelo incentivo e pela leitura! :)

    ResponderExcluir
  3. Olá,
    Gostei muito de suas traduções! Gosto muito da poesia de Edna Millay :)
    Abraço,
    Juliana @opintassilgo

    ResponderExcluir
  4. Olá, Juliana!. Agradeço pela leitura! A propósito, descobri Millay (bem como Nelly Sachs e Marina Tsvetaeva) em teu blog, que acompanho sempre. Teu trabalho é ótimo!

    Abraço,

    Vanessa.

    ResponderExcluir