quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2013: o ano do Camaleão, por Leonardo Alves*

imagem: Google


O ano de 2013 viu muita coisa acontecer no âmbito musical: The Strokes entregarem-se de vez ao pop oitentista com seu Comedown Machine (ainda vou comentar sobre esse disco), a volta do Black Sabbath com uma formação quase original e Paul McCartney, mantendo a vitalidade de seu trabalho solo, com um bom disco (New). Estes são apenas alguns exemplos. 
E 2013 foi também o ano de expectativas: muitos aguardavam ansiosos pelo novo disco do Arcade Fire. Depois de uma estreia brilhante (Funeral) seguido de dois bons álbuns, os fãs do rock contemporâneo aguardavam uma obra-prima ou ao menos uma manutenção do nível de The Suburbs (2010). Mas Reflektor (2013) não causou grande impacto. Claro, há quem o defenda, alegando que se trata de um ótimo disco. Mas creio que a grande maioria se decepcionou.
E qual a grande surpresa de 2013? Na humilde opinião deste que escreve estas parcas linhas, foi o lançamento de The Next Day, de David Bowie. O Camaleão que havia declarado há alguns anos sua aposentadoria, por questões de saúde, surpreendeu todo mundo com seu álbum de 2013. Surpreendeu, pois não se esperava por um novo álbum dele. E a grande notícia é que ele veio com tudo!
 A arte de capa de The Next Day traz uma bem humorada reciclagem de Heroes (clássico da fase Berlim do camaleão). Mas engana-se quem pensar que Bowie retornou ao seu som do final da década de 70. Numa audição apressada há quem coloque The Next Day entre o quase pop Scary Monsters e o pop descarado de Let’s Dance. Mas, a partir de uma audição atenta e repetida, dá para perceber que ele foi além, principalmente por seu ecletismo. Bowie não se prendeu a um único viés sonoro, usando com segurança e maestria tudo o que aprendeu nos seus mais de 45 anos de carreira, fazendo este álbum um de seus melhores.
É possível perceber que o disco foi gravado sem pressa e com muito esmero. Coisa rara nos dias de hoje, em que há muita impaciência e descompromisso na hora de compor e gravar um álbum. Cada audição revela um novo detalhe. Backing vocals caprichados, belas melodias, letras cativantes, arranjos primorosos e uma grande variedade de instrumentos e timbres; tudo isso confluindo para uma sonoridade versátil e cheia de camadas sonoras, fazendo com que cada canção surja como uma surpresa, mas, paradoxalmente, mantendo uma coesão dentro do trabalho. Bowie se valeu de tudo que existe em termos de tecnologia para estúdio na composição sonora de The Next Day, mas sem deixar o elemento orgânico de lado. Baixo, guitarra e bateria estão bastante presentes.  Não à toa muitos comentaram que este disco prefigura uma retrospectiva da obra do seu autor.
Alguns destaques: “Dirt Boys”, “The Stars (Are Out Tonight)”, “Where are We Now”, “Valentine’s Day” e  “Boss of Me”.
Enquanto bandas relativamente novas já mostram certo cansaço & acomodação, David Bowie, com seus quase 70 anos apresenta fôlego suficiente ao escrever uma peça-chave para a música pop do século 21. Disco que será futuramente lembrado junto com seus melhores momentos, como Ziggy Stardust, Aladin Sane e Hunky Dory.  

Confere aí!




*Leonardo Alves é músico, poeta e Mestre em História da Literatura pela FURG. Escreve sobre música todas as quintas - feiras aqui no Chá com Proust. Vive em Satolep. Confira outros escritos no  blog Ensaio Lírico

3 comentários:

  1. Então, eu também achei The next day um dos grandes álbuns de 2013, não apenas por ser realmente ducaramba, mas porque é do Bowie e ele consegue se movimentar muito bem nesse mundo da música cada vez mais cruel. Quanto a repercussão de Reflektor, do Arcade Fire, acho até que a crítica fez um alardezinho sim. Inclusive no top 50 da revista NME eles estavam numa boa colocação, acho que até na frente do Bowie (o que me deixou meio de cara, claro).

    Outro disco que gostei bastante foi o AM, do Arctic Monkeys e Like a clockwork do Queens of the stone age. Juntamente com o The Next Day, foram os que mais ouvi em 2013.

    Ótima resenha, parabéns! :)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Suelen! Muito obrigado por prestigiar meu comentário/resenha sobre The Next Day. Um disco de 2013 que também gostei bastante foi "Trouble will Find Me" do The National. Mas não cheguei a ver se entrou em alguma lista dos melhores de 2013. Por falar em The National, acho que a próxima resenha vai ser sobre High Violet.

    Abração - e muito obrigado pela leitura!

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