quarta-feira, 18 de março de 2015

Chá com Poesia: Jorge Luis Borges em tradução

Argentina (1899-1986)


El suicida

 
No quedará en la noche una estrella.
No quedará la noche.
Moriré y conmigo la suma
del intolerable universo.
Borraré las pirámides, las medallas,
los continentes y las caras.
Borraré la acumulación del pasado.
Haré polvo la historia, polvo el polvo.
Estoy mirando el último poniente.
Oigo el último pájaro.
Lego la nada a nadie.
 
 
 
                                                                                          ***
 
O suicida

 
Não restará na noite uma estrela
Não restará a noite.
Morrerei e comigo tudo
do intolerável universo.
Apagarei as pirâmides, as medalhas,
os continentes e os rostos.
Apagarei o passado.
Farei pó a história, pó o pó.
Estou olhando o último poente.
Ouço o último pássaro.
Deixo o nada a ninguém.
 
 
Mis libros
 
Mis libros (que no saben que yo existo)
son tan parte de mí como este rostro
de sienes grises y de grises ojos
que vanamente busco en los cristales
y que recorro con la mano cóncava.
No sin alguna lógica amargura
pienso que las palabras esenciales
que me expresan están en esas hojas
que no saben quién soy, no en las que he escrito.
Mejor así. Las voces de los muertos
me dirán para siempre.
                                                                        ***
 
 
Meus livros
 
Meus livros (que não sabem que existo)
são  parte de mim como este rosto
de têmporas e olhos cinzentos
que procuro inutilmente nos cristais
e que com a mão côncava percorro.
Não sem alguma amargura
concluo que as palavras essenciais
que me expressam estão nessas folhas
que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Melhor assim. As vozes dos mortos
me cantarão para sempre.
 


Poemas traduzidos por Vanessa Regina e retirados do livro Poesía Completa (Barcelona: Debolsillo, 2013).
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário